R$ 5 mil. Esse é o valor do medicamento adquirido pela Prefeitura de Porto Velho para o tratamento de casos de ataque cardíacos em pacientes atendidos pela rede municipal de saúde. O medicamento, disponibilizado aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), foi usado pela primeira vez no último sábado, 24, quando a equipe médica da Unidade de Pronto Atendimento da Zona Sul (Upa 24 Horas), conseguiu salvar a vida de uma paciente de 81 anos que deu entrada na unidade com um quadro clínico compatível com infarto agudo.
Angelina Valente, moradora do bairro Conceição, após a estabilização da saúde com a aplicação do medicamento, foi encaminhada a uma unidade de terapia intensiva, no caso, o Hospital de Base Ary Pinheiro, para dar sequência ao tratamento. No HB, ela aguarda pela realização de um cateterismo para averiguação de seu quadro clínico.
Caso a paciente não tivesse recebido o medicamento, dificilmente ela conseguiria sobreviver, mas a disponibilização do remédio à população de baixa renda, que não tem condições de desembolsar R$ 5 mil para o custeio do medicamento, deu um outro enredo a essa história e a 
paciente pôde ser estabilizada e encaminhada ao hospital.
Qualidade
Para Vinicius Nogueira, plantonista da Upa da Zona Sul, um dos três médicos que atenderam dona Angelina na unidade de saúde, o estabelecimento, pela prefeitura, de um protocolo de atendimento à síndrome coronariana aguda, inaugura uma nova fase no atendimento nos casos de urgência e emergência cardiovasculares, no que diz respeito ao atendimento desses pacientes. Os outros profissionais são as médicas 
Grace Kelly, responsável pela equipe, e Cíntia Bezerra.
A nova fase deu-se em dois momentos. No primeiro, com a construção da Upas (zona leste e sul) e com o treinamento e aperfeiçoamento dos profissionais que iriam atuar nas unidades, com a realização de cursos, como a capacitação em suporte avançado de vida cardiovascular e sobre as 
síndromes coronarianas agudas, ministrados e supervisionados pelo médico Sérgio Timerman, cardiologista e diretor do Laboratório de Treinamento em Emergências Cardiovasculares do Instituto do Coração (Incor), do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
“O segundo momento, veio por meio de uma decisão audaciosa e correta da administração municipal em disponibilizar para o SUS, uma medicação de alto custo que é utilizada nos melhores centros de referência em urgência e emergência cardiovasculares, como os hospitais Albert Einstein e Círio Libanês, em São Paulo. O medicamento é o tenecteplase, um trombolítico que, se 
utilizado com as indicações precisas, no momento correto, num paciente com infarto, pode salvar sua vida, como o que ocorreu no último sábado”, disse.
Para ele, à medida que o município consegue oferecer um serviço de referência, os profissionais de saúde poderão também prestar à população de Porto Velho uma assistência médica mais digna, com uma medicina de excelência. “Hoje a rede municipal de saúde tem nas Upas profissionais altamente treinados e qualificados, o que dá uma melhor segurança técnica para realizar os procedimentos necessários, principalmente nos casos de pacientes com infartado”, avaliou.
Protocolo
O protocolo de atendimento usado pelas Upas 24 Horas, e gerenciado aos pacientes portadores de infarto agudo do miocárdio, consiste em um conjunto de ações integradas entre as equipes médicas e enfermagem visam otimizar o tratamento terapêutico do paciente, ao chegarem na unidade. O primeiro atendimento é feito pelo serviço de triagem que, ao diagnosticar o caso de infarto, encaminha imediatamente o paciente à sala vermelha.
Pela norma, o tempo máximo entre a chegada do paciente e a realização do eletrocardiograma é de 10 minutos. Reconhecido o infarto e checado as contra-indicações, o paciente poderá ser ou não eleito para receber o tratamento com o medicamento. Da chegada do paciente ao serviço até o reconhecimento do infarto o tempo máximo para a medicação é de 30 minutos. Após medicado, o paciente permanece em observação por 90 minutos para verificar se houve alterações eletrocardiográficas que sugira que o trombo (coagulação do sangue no interior do vaso sanguíneo) 
diminuiu. Só depois ele é encaminhado a uma unidade de tratamento intensivo.
O infarto agudo do miocárdio é uma síndrome coronária e exige um atendimento imediato. Na maioria dos casos existe um retardo no reconhecimento e na valorização de seus sinais e sintomas. Devido a este problema e a gravidade da situação, cerca de 1/3 das pessoas que tem infarto agudo do miocárdio morrem antes de chegar ao hospital. O maior benefício é alcançado quando a terapia trombolítica é administrada ao paciente. Contudo, poucas são as pessoas que são beneficiadas por este tipo de terapia.
O motivo para isto é a demora em ir para o hospital. As pessoas portadoras de insuficiência coronariana, hipertensão arterial e diabetes são as que levam mais tempo em buscar o atendimento médico. É de extrema importância que uma pessoa que tem os sintomas característicos do infarto, seja encaminhada para o hospital o mais rapidamente possível. A vida da pessoa pode depender de um atendimento médico imediato.
Tratamento
O tratamento trombolítico consiste na aplicação de medicações por via endovenosa que irão desfazer o trombo que se formou na artéria coronária afetada. Para uma pessoa ser submetida a este tratamento, algumas condições devem ser respeitadas: A utilização do tratamento trombolítico para a recanalização da artéria vem sendo incorporada na prática clínica há mais de 25 anos e está baseada nas seguintes observações: alta prevalência da presença de um trombo oclusivo nas artérias coronárias nas primeiras horas do IAM, redução da necrose miocárdica com a reperfusão do vaso e consequente redução da mortalidade.
O tenecteplase é um trombolítico (substância que dissolve um coágulo presente na circulação sangüínea) de administração única e intravenosa e produzido por meio de engenharia genética. O medicamento permite o tratamento precoce do infarto agudo do miocárdio, pois começa a surtir efeito apenas cinco minutos após sua aplicação e permanece ativo além de 20 minutos.
O medicamento é um fibrinolítico, que associado a um antitrombótico (como as outras drogas desta categoria também são empregadas), age diretamente sobre o 
coágulo dissolvendo-o e desobstruindo de maneira imediata a artéria, restabelecendo o fluxo de oxigênio para o músculo cardíaco.
O medicamento leva apenas de cinco a dez segundos para ser administrado, enquanto que o tratamento padrão utilizado ainda atualmente em muitos hospitais é realizado em uma hora e meia. O medicamento quando aplicado na primeira hora após o infarto agudo do miocárdio, o medicamento recupera o músculo cardíaco afetado.
Por Joel Elias
Fotos: Frank Néry/ Arquivo Comdecom
